Relato de um quase parto
- Larissa Queiroz
- 26 de mar. de 2015
- 4 min de leitura

Depois de 1 ano e 8 meses, consigo sentar para escrever sobre o meu quase parto. Digo à mim mesma que não há um motivo real, só a correria do dia a dia mesmo. Mas, lá no fundo, sei que só escrevo agora, porque só agora consegui com que tudo fizesse sentido.
O meu relato não termina com um bebê saindo lentamente pela minha vagina, numa banheira de água quente, sendo acolhido pelas mãos do pai. Ele termina numa sala de cirurgia, sendo extraído pelas mãos da obstetra. Mas tudo bem. Isso foi realmente necessário. Não fomos enganados. A cesariana salvou a vida do João.
A minha DPP (data provável de parto) era dia 17 de Julho de 2013, mas João, já sabendo do frio que ele enfrentaria em pelo inverno no Pico do Jaraguá, o ponto mais alto de SP, só deu sinais de que queria colocar o nariz aqui fora no dia 24 pela manhã, quando a minha bolsa rompeu. Já fez xixi na cama, mas achou que estava sonhando? Foi essa a sensação que tive. Não era xixi, era líquido amniótico. Liguei apara a Ana Cris, a parteira urbana mais porreta que conheço, que foi quem acompanhou todo o meu pré-natal e assistiria ao meu parto domiciliar também para contar a novidade. “Está se sentindo bem?”, “Sim”, “Contração?”, “Ainda não.” E então decidimos que passaria no consultório para ver se estava tudo bem e caso o TP não desencadeasse, tentaríamos induzir com acupuntura.
Na manhã seguinte, fomos à acupunturista. Na sessão, ela me pediu para tentar elaborar o que estava para acontecer, este parto que estava chegando, que trazia um filho junto com ele. E só fiz chorar. A gravidez, a ansiedade, o filho não planejado, o relacionamento conturbado, tudo rolava junto com aquela lágrimas.
Falando pelo telefone com a doula, Isadora Canto, combinamos que ela viria para a minha casa ao cair da noite, pois o TP poderia desencadear depois da sessão. Era dia 25 de Julho, muito frio e as contrações começaram a dar sinal só na alta madrugada. A Isadora já tinha uma viagem marcada e me deixou aos cuidados da Alessandra. Esperaríamos a Ana Cris chegar pela manhã, pois estava atendendo outro parto.
O trabalho de parto se define pela presença de contrações. São elas que dão o ritmo para essa dança. E não foi por falta de ensaio, mas a minha banda estava descompassada. Hoje penso que mesmo com toda preparação para o parto, todo o planejamento, se a gente não desliga o cérebro e deixa o corpo dizer, nada acontece. Pode ter a doula, a parteira mais experiente, a casa mais aconchegante. O parto não é a equipe, não é o lugar. Claro que isso ajuda, mas o que ajuda mesmo é estar conectada com você mesma, é se deixar levar pela natureza, é encontrar o seu “eu” mais profundo. Um detalhe importante é que o frio também atrapalha toda essa concentração. Vilma Nish, parteira, diz que “mulher não pari no frio”. E é verdade.
No final do dia 26 de Julho achamos prudente a remoção para um hospital, já que o parto teria que ser induzindo com ocitocina, pois sozinha, não estava conseguindo. E tudo bem! Estava exausta e precisava de ajuda. Decidimos por um hospital em Campinas, por ter uma equipe backup da Ana lá, com uma sala de parto bacana, onde eu poderia ficar com a minha família. Depois de mais uma madrugada e mais um dia inteiro de contrações sem ritmo, João mostrou sérios sinais de cansaço depois de uma pequena dose de ocitocina. Optamos pela cesárea e no dia 27 de Julho, às 20h20, João nasceu forte e saudável, sem chorar, com olhos abertos e curiosos. Não foi aspirado, não usou colírio e mamou na sala de recuperação após 15 minutos de nascido.
Aprendi que:
– Parto Humanizado é aquele onde a mulher tem todo o suporte necessário para experienciar o seu parto, com liberdade e acolhimento.
– Ser bem assistida e ter informações honestas, por pessoas em que se confia, faz toda diferença.
– A gratidão é o sentimento mais lindo que pode existir no mundo. Devo todo o meu coração à Ana Cris, que chorou, riu e passou seu aniversário sentada na poltrona do hospital esperando o meu parto, às minhas queridas doulas, Isadora e Alessandra, que ficaram comigo em casa e Ariene, que ficou comigo no hospital. Minha mãe querida que estava sempre atenta às minhas necessidades e dores. E ao Marcelo, que até o seu limite, me deu apoio.
– A cesárea é uma cirurgia que salva vidas, mas passar pelo trabalho de parto nos deixa fortes, muito fortes. Nos torna mulher. Tudo depois fica um pouco menor, pois aquela sensação te ensinou que você pode enfrentar tudo o que vier pela frente.
– Saber que o seu filho chegou da melhor maneira neste mundão de meu Deus, não tem preço!
E aí, fui aprender o que era esse negócio de ser mãe.
Mas isso é assunto para outro post…
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